Flávio Dino recebeu R$ 400 mil para apoiar projeto de interesse da Odebrecht, diz delator
O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB) foi delatado na Lava Jato por José de Carvalho Filho, ex-funcionário da Odebrecht. Ele era uma espécie de braço-direito de Cláudio Melo Filho, ex-diretor de Relações Institucionais da empresa.
Segundo o colaborador, o comunista pediu R$ 400 mil de ajuda financeira a sua primeira campanha ao Executivo, em 2010.
O dinheiro, garante o delator, foi efetivamente entregue em troca do apoio de Dino, então deputado federal, a uma proposta de interesse da Odebrecht: o Projeto de Lei nº 2.279, de 2007, que vetava a aplicação no Brasil de leis estrangeiras que afetem o comércio internacional.
Segundo José Filho, se aprovado, esse projeto atribuiria “segurança jurídica a investimentos do grupo Odebrecht”. O temor da empresa era que leis americanas vedando investimentos em Cuba fossem aplicadas no Brasil.
“José de Carvalho Filho […] relata que, no ano de 2010, participou de reuniões com o então Deputado Federal Flávio Dino, tratando de questões acerca do Projeto de Lei 2.279/2007, o qual atribuiria segurança jurídica a investimentos do Grupo Odebrecht. Num desses encontros, teria lhe sido solicitada ajuda para campanha eleitoral ao governo do Estado do Maranhão, pagamento efetuado no total de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais)”, relata o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, ao deferir o pedido da Procuradoria-Geral da República para que o caso do governador maranhense fosse encaminhado ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) .
Ainda de acordo com José Filho, a “senha para receber o repasse” foi entregue diretamente a Flávio Dino, sem intermediários.
“A senha para receber o repasse teria sido entregue à época ao próprio parlamentar, sendo a operação realizada pelo Setor de Operações Estruturadas [o chamado ‘departamento de propinas’] e registrada no sistema ‘Drousys’”, diz outro trecho do despacho de Fachin.
Outro lado
Em nota publicada nas redes sociais ainda na noite de ontem (11), Flávio Dino se disse inocente. Ele negou ter atendido a qualquer interesse da Odebrecht.
“Tenho consciência absolutamente tranquila de jamais ter atendido qualquer interesse da Odebrecht, nos cargos que exerci nos 3 Poderes. Se um dia houver de fato investigação sobre meu nome, vão encontrar o de sempre: uma vida limpa e honrada. Tenho absoluta certeza de que a verdade vai prevalecer, separando-se o joio do trigo”, afirmou.
Já na manhã de hoje, comentou especificamente o conteúdo da delação. Disse ter sido designado relator do projeto de lei em questão, mas ressaltou que sequer emitiu parecer ou voto no caso.
“Fui designado relator do projeto sobre proteção de investimentos em Cuba contra Estados Unidos. Mas jamais apresentei parecer, voto, nada. […] Projeto de lei de 2007 tramita há 10 anos e nunca foi votado. Nunca escrevi uma linha na tramitação do projeto. Basta consultar site Câmara”, declarou.