Da corrupção ao carro do milhão: veja o histórico de acusações que pesam contra Braide
Suspeita de favorecimento em licitações e suposto esquema de propina fazem parte da cronologia de falcatrua que envolve clã do prefeito de São Luís
O prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD), enfrenta seu pior momento, com diversas acusações sendo feitas ao mesmo tempo contra ele – do contrato de R$ 18 milhões que beneficiou a empresa do ex-assessor ao carro abandonado com mais de R$ 1 milhão que envolve um dos irmãos – além de continuar respondendo por uma série de acusações que estão sendo apuradas pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) destinada a investigar supostas irregularidades em contratos emergenciais de sua gestão.
O blog da Dalvana Mendes fez um levantamento com o histórico das vezes em que Braide ou seus familiares foram alvos de acusações, antes mesmo do mandatário ludovicense assumir o comando do Palácio de La Ravardière, em janeiro de 2021.
Veja abaixo:
Corrupção na Semcas
Uma série de denúncias de corrupção provocou, em dezembro de 2022, uma demissão em massa de cerca de 90 servidores da Secretaria da Criança e Assistência Social de São Luís (SEMCAS). Em um dos casos, há a suspeita de favorecimento em licitações, estimadas em mais de R$ 1,7 milhões.
O Ministério Público do Maranhão (MP-MA) abriu um inquérito para investigar as denúncias. De acordo com as primeiras investigações, a empresa AD Infinitum Serviços, Consultoria e Comércio LTDA, aberta em 2017, foi a vencedora de uma licitação para o fornecimento de alimentos a materiais elétricos.
A empresa pertence a Aline da Silva. A empresária aparece em várias fotos ao lado de Ana Carla Furtado, secretária da SEMCAS. Em seis meses da gestão dela, a empresa da ‘amiga’, venceu quatro pregões para o fornecimento de fraldas descartáveis, alimentos perecíveis, não perecíveis e hortifrutis.
Em seis meses da gestão da secretária, a empresa faturou R$ 1.782.623,83. A denúncia foi feita na Câmara de Vereadores de São Luís e encaminhada ao Ministério Público.
Confusão na Cultura
Em janeiro de 2024, o contrato da Secretaria Municipal da Cultura (Secult), com uma escola situada na Cidade Olímpica para a ‘colaboração’ na realização do Carnaval 2024 por quase R$ 7 milhões, abalou as estruturas da prefeitura.
Trata-se do ‘Instituto de Educação Juju e Cacaia tu és uma Benção’, situado na Avenida Jailson Sousa Viana, naquele bairro. Na unidade há turmas do Maternal I e II; Infantil I e II e o 1º ano do Ensino Fundamental.
Como o tema corrupção sempre foi espinhoso para Braide, ele optou em demitir chefe de gabinete, assessor jurídico e até o próprio secretário da pasta, sem que nenhuma revelação tenha sido feita sobre irregularidades. Em seguida, o prefeito meteu o louco e resolveu revalidar o contrato com a instituição. No entanto, não optou por não recontratar a equipe demitida.
Aroma da corrupção
Sócio da Aroma & Sabor Alimentos, conhecida como restaurante Pier 77, o empresário Arthur Henrique Segalla de Carvalho Pereira, foi assessor parlamentar do prefeito Eduardo Braide, na época em que foi deputado estadual.
Com o aval da secretária de Saúde (Semus), Ana Carolina Mitri da Costa, a empresa foi contratada em caráter emergencial, para prestar de nutrição e alimentação hospitalar para as unidades Hospital de Urgência e Emergência Dr. Clementino Moura (SocorrãoII), Casa de Parto Nazira Assub, Hospital da Criança, Pronto Socorro do Anil, CAPS AD, CAPS II e CAPS Infantil.
O valor do contrato gira em torno de R$ 18.013.158,00 milhões. O caso, que veio à tona pela imprensa em maio de 2024, segue sendo investigado pela CPI dos Contratos Emergenciais.
Empreiteiro faz grave acusação
Em julho de 2024, outro caso que ganhou forte repercussão foi a grave acusação do empresário Antônio Calisto Vieira Neto, dono da Construmaster – Construções e Locações de Máquinas LTDA, em uma publicação do prefeito de São Luís, Eduardo Braide (PSD) no X (antigo Twitter).
No dia 29 de maio, quando Braide publicou na rede social, um vídeo prometendo uma nova praça e iluminação de LED no bairro Tibirizinho, o empreiteiro fez dois comentários na publicação com acusações contra o chefe do Executivo. Em seu comentário, taxou o prefeito de corrupto, manipulador, desonesto e bandido.
“Eduardo Braide se a população de São Luís soubesse 1/3 dos teus esquema (falo por mim tá), você não seria nem candidato! Estaria na cadeia!! Corrupto! Manipulador! Desonesto e bandido!!! Tu é o teu secretário David Coldebella”, escreveu.
O empreiteiro foi convidado pela na CPI dos Contratos a depor após denunciar supostas irregularidades relacionadas a sua participação na Concorrência nº 001/2023 da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Semosp). Na época, alegou, via advogado, que não estava no Brasil e que, por isso, não poderia comparecer ao depoimento marcado o dia 12 de julho.
Carro abandonado com R$ 1,1 milhão
Um carro abandonado com R$ 1 milhão no porta-malas foi apreendido, no dia 30 de julho de 2024, pela Polícia Militar do Maranhão (PM-MA). O veículo estava no bairro de Renascença, em São Luís.
Três dias depois, a Polícia Civil identificou o homem que dirigia o veículo. Trata-se de Guilherme Ferreira Teixeira.
Segundo as informações, Guilherme é ex-assessor do prefeito Eduardo Braide, tendo sido funcionário dele em gabinete na Câmara dos Deputados, em 2019, e na prefeitura onde ocupou cargo de assessor até fevereiro de 2023.
Depois disso, passou a ocupar o cargo assessor-técnico no gabinete do irmão do prefeito, o deputado estadual Fernando Braide (PSD).
Além disso, o homem que se apresentou aos policiais como dono do veículo é Carlos Augusto Diniz da Costa. Ele tinha um cargo comissionado na Secretaria Municipal de Informação e Tecnologia da prefeitura de São Luís, e foi exonerado depois da repercussão do caso, no dia 31.
Depois que Guilherme estacionou o carro, um outro veículo parou ao lado para que ele embarcasse no banco do carona. Este outro automóvel está registrado, segundo a polícia, no nome da mãe do prefeito Eduardo Braide (PSD), falecida em 2010.
Durante esses dias tentaram me envolver em uma situação. Assista esse vídeo. pic.twitter.com/UyPPUJcbEv
— Eduardo Braide (@EduardoBraide) August 7, 2024
Quebrando o silêncio da corrupção
Mais de uma semana depois que a polícia achou o Clio vermelho com R$ 1,1 milhão no porta-malas, o prefeito Eduardo Braide, finalmente, resolveu falar sobre o assunto:
• Primeiro, jogou o problema no colo do irmão, Antonio Carlos Braide, o Tonho Braide, com quem diz não falar há quase três anos;
• Depois, mostrou indignação com o envolvimento do nome da mãe, já falecida, no episódio;
• Por fim, tentou jogar culpa na imprensa.
Acusações antes de virar prefeito
As acusações e suspeitas que pairam sobre a família Braide, antes mesmo de Eduardo virar prefeito. Entre 2014 e 2016, por exemplo, ele figurou no relatório do Procedimento Investigatório Criminal (PIC) n.º 003/2014, do Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco), que investigou a chamada Máfia de Anajatuba.
Na época, foi constatado que José Antônio Machado de Brito Filho, teria embolsado o total de R$ 243.739,70 (duzentos e quarenta e três mil, setecentos e trinta e nove reais e setenta centavos) como funcionário fantasma no gabinete do então deputado estadual Eduardo Braide.
De acordo com as investigações, a ilegalidade ocorreu entre os anos de 2011 e 2014, e foi revelada aos promotores de Justiça Gladston Fernandes de Araújo, Marco Aurélio Cordeiro Rodrigues e Marcos Valentim Pinheiro Paixão, durante oitiva com o sócio de Brito Filho na empresa A4 Serviços e Entretenimento, Raimundo Nonato Silva Abreu Júnior. Ambos, segundo o Gaeco, eram laranjas, na empresa de fachada.
Orcrim
De acordo com as investigações, a A4 pertence e é operada pelos empresários Fabiano de Carvalho Bezerra, que também foi funcionário fantasma no gabinete de Eduardo Braide de 2012 a 2014; e Antônio José Fernando Júnior Batista Vieira, proprietário do instituto Escutec – Pesquisas de Mercado e Opinião Ltda; além do próprio pai do parlamentar, o ex-presidente da Assembleia Legislativa do Maranhão, Antônio Carlos Salim Braide.
No depoimento prestado por Raimundo Júnior ao Gaeco, um trecho grave chama a atenção: todo o dinheiro que Brito Júnior recebia como funcionário fantasma na AL-MA era repassado ao próprio Eduardo Braide, por meio de uma outra pessoa envolvida no esquema criminoso e também funcionária fantasma no gabinete do parlamentar, Matilde Sodré Coqueiro. Ela também era, segundo as investigações do Gaeco e do Ministério Público Federal (MPF) compartilhadas com a Polícia Federal, secretária de Fernando Júnior na Escutec e funcionária de outra empresa de fachada criada e operada por Fabiano Bezerra, Fernando Júnior e Carlos Braide, a Vieira e Bezerra Ltda – ME.