Dívida de campanha teria sido paga com dinheiro desviado de emendas parlamentares
Comprovante aponta depósito de cheque de uma das entidades envolvidas no esquema na conta bancária de suposto agiota; um dos contadores envolvido no esquema é suspeito de ter realizado o procedimento
Entre os documentos anexados nos autos do processo nº 14650-35.2019.8.10.0001 (que trata do sigilo bancário e fiscal) na denúncia que aponta supostos esquemas com dinheiro público envolvendo emendas parlamentares da Câmara Municipal de São Luís está o extrato e comprovante de depósito de cheque de uma das entidades envolvidas no esquema para a conta de um empresário, apontado pela força-tarefa da Operação Faz de Conta, como “agiota” que é suspeito de ter financiado a campanha de um vereador da capital maranhense.
O agiota, conforme fontes da Justiça Estadual, figura no inquérito com testemunha. Ele, inclusive, chegou a ser convocado para prestar depoimentos sobre o caso. Segundo a denúncia, tanto a ordem de pagamento quanto o depoimento foram fundamentais para demonstrar que o dinheiro teria sido uma forma de “quitação” de eventuais dividas de campanha.
Além de extratos bancários, o bojo do processo conta ainda com arquivos sobre a quebra de sigilo e interceptação de dados telemáticos – WhatsApp, conforme processo nº 13331-32.2019.8.10.0001.
Também consta na peça acusatória a degravação de arquivos de interceptação telefônica realizada no período da investigação, segundo processo nº 13388-50.2019.8.10.0001; e juntada de quatro arquivos de mídias (DVDs) com os depoimentos colhidos no curso da investigação, relacionada ao acordo de colaboração premiada que compõe o processo nº 12.722/2019.
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De acordo com documentos aos quais tivemos acesso, a delação premiada do presidente da Associação dos Moradores do Conjunto Sacavém, Luís Carlos Ramos – o “Lula”, que também é funcionário aposentado da Câmara, contribuiu para a checagem de informações relativas aos crimes investigados pelos promotores.
Papéis invertidos
Além da Associação dos Moradores do Conjunto Sacavém, o Instituto Renascer e o Instituo Periferia, também foram alvos da Operação Faz de Conta, deflagrada pela Polícia Civil e do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), em novembro de 2019.
Na época, a força-tarefa investigava o desvio de mais R$ 1,9 milhão da Secretaria Municipal de Desportos e Lazer (Semdel) de São Luís entre 2018 e 2019 por 8 vereadores de São Luís. Foram R$ 500 mil ao Renascer, e R$ 1,4 milhão ao Periferia.
Outra curiosidade é que a pasta era comandada por Romeo Amim (PCdoB), um dos investigados. Hoje, entretanto, tem como secretário o ex-vereador Ricardo Diniz (DEM), que figura como um dos parlamentares que destinaram emendas às duas entidades, conforme dados do Portal da Transparência da Prefeitura de São Luís.
Pau que nasce torto…
As investigações sobre o escândalo do ‘emendão’ comprovam a reincidência de alguns investigados pela Operação Faz de Conta que voltaram a delinquir e figuram na nova denúncia oferecida pelo Ministério Público à Justiça que tem como um dos réus o ex-secretário Municipal de Cultura, Carlos Marlon de Sousa Botão – o Marlon Botão, que é pai do vereador Marlon Botão Filho (PSB).
Levantamento junto às denúncias aponta pelo menos quatro dos envolvidos no dois inquéritos. No entanto, os detalhes sobre a relação dos reincidentes, iremos revelar no próximo episódio da série que trata sobre o assunto.
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